sábado, 7 de maio de 2011

Atma Bodha – Sloka 30

Atma Bodha
Sri Adi Sankaracharya


Comentários de 
Swami Atmananda

tradução 
Swami Krsnapriyananda

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Atma Bodha – Sloka 30
Seção Vedanta
Os Mahavakyas desvelam a Identidade

Adi Sankaracarya
No sloka anterior, Sri Adi Sankaracarya explicou que o Atma é autoluminoso. Ele não necessita de outra luz para iluminá-lo. Os órgãos dos sentidos e o intelecto não podem iluminar o Atma, mas o Atma é o iluminador de todas as coisas. Se este é o caso, então surge a pergunta como pode a natureza do Atma ser conhecida? Se é dito que o Atma é conhecido pelas escrituras, então isso implica que o Atma é objetável, e se alguma coisa pode ser objetável, significa que ela é inerte e dependente de outra origem de luz para sua existência, e também para ser conhecida. O seguinte sloka responde esta interrogação, e desvela como as escrituras são unicamente o meio válido do conhecimento, e como os Upanisads belamente desvelam o Atma, mesmo apesar de ele não poder ser conhecido como um objeto.

Atma Bodha – Sloka 30


 niṣidhya nikhila upādhīn neti netīti vākyataḥ |

vidyādaikyaṁ mahāvākyaihi: jīvātmanaḥ paramātmanoḥ || 30||

Nishiddhya: negando; nikhila upadhin: todas as limitações adjuntas; neti neti iti vakyatah: com a expressão não isso, não isso; vidyat: conhecido ou vindo realizar; alkyam: identidade; mahavakyaihi: com auxilio de grandes citações; jivatmanah paramatmanoh: o individual e o Ser Supremo.

Eliminando-se todas as limitações adjuntas, com a expressão “não é isso, não é isso”, pode-se realizar a identidade do individuo e do Ser Supremo, com o auxilio dos grandes Mahavakyas.


Nishiddhya nikhila upadhin

O conhecimento do Vedanta ou autoconhecimento é um conhecimento complicado. Normalmente estamos condicionados a conhecer alguma coisa como sendo um objeto, o qual está em separado do conhecedor. Então há um conhecedor e um objeto do conhecimento,  e este conhecimento também tem um lugar na mente. Qualquer coisa conhecida pela mente se torna um objeto da mente, e qualquer coisa que pode ser objetável torna-se inerte e separa-se do sujeito, o conhecedor. Mas no caso do conhecimento do Ser, isso é, o verdadeiro ‘eu’, o conhecedor é o conhecido. O ‘eu’ ou o Atma é sempre existente, e, portanto, ele é apenas visto na sua verdadeira essência. Ele não pode ser obtido. Alcançar alguma coisa implica sua ausência num determinado tempo e sua presença num outro. Nós somos a pura e cintilante bem-aventurada verdade, mesmo agora. Então, o único meio válido de conhecimento é a ‘palavra’, a qual é comunicada por um preceptor, que há viu por si próprio e é também capaz de comunicá-la efetiva e igualitariamente. Portanto, a regra do preceptor e as escrituras se torna um assunto delicado, onde o Mestre destrava o significado por detrás da palavra sem erguer nada da imaginação ou nova condição.
                                             
A regra das escrituras e do Mestre é para o despertar de alguém dentro da verdade na qual, de fato, já ‘está’. Apenas tem de ser realizada, ainda que todos nós tenhamos uma consciência geral do Ser. Eu estou ciente de minha existência. Eu sei, “eu sou”. Então, não há uma ignorância total do Ser. Mas realmente nós somos ignorantes da verdadeira natureza do Ser, como sendo ilimitado, eterno e bem-aventurado. Não apenas somos ignorantes da realidade do Ser, mas nós temos sobreposição de várias limitações adjuntas e identificação do corpo, mente e intelecto como sendo o Ser. A natureza do despertar, assim, implica negar todas as tais sobreposições, como ‘eu sou o corpo, mente e intelecto’, e todas que nascem desta identificação. Hoje, nossa identidade baseia-se na nossa associação com a forma manifestada da nossa existência, ou BMI. As escrituras desvelam, "conheça esta identidade como sendo relativa, efêmera e limitada, e negue todas as limitações no plano de tempo, espaço e objeto".  O processo de "negação" é a arte das escrituras desvelarem o qual já ‘é’.

Neti neti iti vakyatah:
O processo de negação sob discussão é aproximado pelo discernimento entre o Real e o Irreal. O que é ‘Real’ é eterno, imutável, fato vivificante, cuja verdadeira natureza é bem-aventurança. O ‘Irreal’ engolfa tudo o mais do que o Ser, e, por conseguinte, pode ser objetificável pelo Ser. Tudo inicia a partir dos objetos do mundo; o corpo físico grosseiro, os corpos sutis da mente e intelecto, o corpo causal da ignorância, em resumo, tudo está envolto ao reino do conhecimento objetivo. Todas estas coisas e as experiências variadas nascem deles e estão constantemente mudando e morrendo. Elas são inertes devido ao fato de ser dependentes do ‘meu’ de nossa existência. Elas nascem num tempo particular, estão limitadas ao espaço e atadas a atributos específicos. Um estudante do Vedanta, aspirando por autoconhecimento, deixa todas aquelas,  vendo nelas o Irreal. Ele elimina tudo aquilo que está separado do Ser. Apesar de isso ser também significativo, e interessante, para compreender que a negação não implica em fisicamente negar as formas manifestadas, porém implica em arremessar fora a indevida e excessiva importância da ‘realidade’, a qual é irreal. Tal negação desvela para nós a natureza divina do Ser, assim como o Sol desvela-se tão logo as nuvens movam-se para longe dele.

Vidyatalkyam mahavakyalhi
O Acharya ainda prossegue prescrevendo a distinção entre o que é real, e o irreal, trazendo agora para ver-se a verdade através da visão da unidade entre o Jiva (o indivíduo) e Iswara (Deus). Um aspirante espiritual inicia sua jornada pelo fato de visualizar a insignificância do que é irreal. Ele também vê a existência de um poder divino, quem é o criador e controlador deste universo. A vida de um Jiva particular é uma abençoar contínuo desta entidade divina, a quem nos referimos como Deus. No começo, um indivíduo vive a vida como um devoto oferecendo todas as suas ações e desejos, como um humilde serviço a Deus. Tendo estabelecida tal divina relação, um Jiva vive uma vida de paz, contentamento e felicidade desprovida de egoísmo. Mas permanece o fato que o Jiva é separado de Iswara. Não há apenas uma dualidade entre o Jiva e Iswara, mas também um sentido de limitação, em que o Jiva é menor e limitado, enquanto Iswara é o uno, com poder e conhecimento infinitos. A liberação última chega quando o Jiva vê a unidade entre ele mesmo e Iswara, pela negação da forma manifestada do Jiva individual, e a magnânima forma de Iswara. Esta verdade é desvelada nas grandes citações (dos Upanisads) chamadas de Mahavakyas, como: “Tat Tvam Asi”, isso é, “O que vós sois isso (ou este n.t.)”, implicando não existir dualidade entre o Jiva e Deus. Isso talvez surja como um choque para muitos Sadhakas, quem se veem a si mesmos como “devotos de Deus”; “Deus é onipotente, enquanto que ‘eu’, com um indivíduo, sou bastante limitado!” Embora este espirito de purificação seja importante na mente de várias atitudes egocêntricas e negativistas, porém, a liberação vem pela visão da unidade entre o Jiva e Iswara. De aí em diante, então, a jornada começa a realizar esta unidade (torná-la real. n.t). Este processo é provocado a partir da negação da forma manifestada no corpo do indivíduo, mente e intelecto, e também por negar a forma manifestada de Iswara, a qual fora invocada por sua Maya. Uma vez que as manifestações são negadas o que então permanece é a existência e a consciência puras, o que simplesmente “é”.

Jivatmanah paramatmanoh
Esta realização (tornar real) da unidade liberta a pessoa do seu sentido de limitação e procura contínuas. O Jiva ou indivíduo torna-se uno com o Supremo. No estado de ignorância há a existência da individualidade e totalidade, onde a consciência manifesta-se no plano do indivíduo e totalidade, conhecidos como Jiva e Iswara, respectivamente. Uma vez que esta manifestação da individualidade e totalidade, isso é, o Jiva e Iswara, são ambos negados, o que permanece é a pura consciência. Isso é a unidade entre o Jiva e Iswara, realizada pelo Mahavakhya como, Tat Tvam Asi.

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