Koshas na visão do Advaita Vedanta
por
Swami Krsnapriyananda Saraswati
Em muitos textos fundamentais do Advaita Vedanta há menção aos Koshas, "estojos" ou "camadas" que revestem o Atma (o Ser). O estudante da Filosofia do Advaita Vedanta deverá conhecer bem sobre eles, e ir aos poucos compreendendo a diferença entre o que é objetivo e o que é subjetivo. Sumariamente falando, o que diz respeito ao objetivo está ligado aos objetos, portanto, possui forma, e o que diz respeito ao subjetivo está ligado ao sujeito, não possuindo forma, etc.
Kosha ou kosa é uma palavra sânscrita que significa “estojo”, “revestimento”, “vaso”, “container”, “camada”, que em número de cinco cobrem ou envolvem o Atma, ou o Ser, conforme a filosofia do Advaita Vedanta (ou Vedanta "sem-segundo"). Uma representação usual mnemônica é vê-los como camadas numa cebola, ou como naquelas bonequinhas Babushka, que ficam umas dentro das outras.
Os cinco estojos recebem o nome de Pañca-kosas (literalmente, cinco estojos), e a denominação destes cinco estojos segue um ordem que vai do mais grosseiro ao mais sutil destes estojos, conforme a seguinte,
1. Annamaya kosha; anna= alimento; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de alimento.
2. Pranamaya kosha; prana= energia prana; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de prana.
3. Manomaya kosha; mano= mente; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente da mente;
4. Vijñanamaya kosha; vijñana= inteligência; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de inteligência.
5. Anandamaya kosha; ananda= bem-aventurança; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de bem-aventurança.
O sábio é quem discerne entre o Atma e os Koshas, estes os quais são não-ser.
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Babushkas |
Compreendendo melhor os cinco estojos
1. Annamayakosha
É o estojo físico ou corpo físico, recebendo este nome devido ao fato de ser nutrido pelo alimento ‘grosseiro’, anna. Vivendo dentro desta camada uma pessoa identifica-se com uma massa de pele, carne, gordura, ossos, e excremento, enquanto que aquele quem realiza a Verdade discerne o Ser ou Atma com verdadeira realidade, o qual é distinto do corpo físico;
2. Pranamayakosha
Significa que este estojo é composto de prana, o princípio vital solar; a força que vitaliza e sustenta junto o corpo e a mente. Ele impregna todo o organismo, e uma das suas manifestações físicas é a respiração. Tanto quanto este princípio vital exista nos organismos, a vida se mantém. Integrado com os cinco órgãos de ação ele forma o estojo vital. Prana é considerado como sendo uma modificação do ar vital vayu, o qual entra e sai do corpo físico.
3. Manomayakosha
Manomaya é o que compõem a mente ou manas. A mente, junto com os cinco órgãos dos sentidos constitui o manomayakosha. Este estojo é o que mais se aproxima do que conhecemos como ‘personalidade’ de alguém, mais do que annamayakosha e prenamayakosha. Manomaya é a causa da diversidade, ‘eu’ e ‘meu’. Sri Adi Sankara compara manomaya a nuvens que são trazidas pelo vento, e que outra vez se afastam pelo mesmo agente. De modo semelhante, o cativeiro e a liberação da pessoa são ambos unicamente causados pela mente.
4. Vijñanamayakosha
Trata-se do estojo do intelecto; a faculdade de discernir, determinação ou vontade. Vijñanamaya é um estojo composto de intelecção associada com os órgãos de percepção. Sri Adi Sankaracarya defende que buddhi (o intelecto), com suas modificações e os órgãos do conhecimento, formam a causa da reencarnação. Este “estojo inteligência”, o qual parece ser seguido pela reflexão do poder de ‘cit’ (pensamento), é uma modificação da Prakriti (natureza material). Ele está provido com as funções do conhecimento e identifica-se a si mesmo com o corpo, os órgãos, etc.
Este estojo de inteligência não pode ser o Ser Supremo devido as seguintes razões:
- está sujeito à mudanças;
- é insensciente (sem sentimento);
- é algo limitado,
- não é constantemente presente.
5. Anandamayakosha
É o mais sutil dos estojos, e significa “estojo composto de bem-aventurança”, ananda. Nos Upanisads, este estojo é também conhecido como “corpo causal”. No sono profundo, quando a mente e os sentidos cessam de funcionar, ele fica em repouso ente o mundo finito e o Ser. Anandamaya, ou aquilo que é composto de bem-aventurança, é o estojo mais íntimo de todos os outros. Este estojo atua em plenitude durante o sono profundo, enquanto que no sono com sonhos ou no estado de vigília, ele tem uma manifestação parcial.
hari om tat sat
Glossário
Advaita= sem-segundo; não duplo; não-dual; contrário a Dvaita= duplo; dual.
Ananda= bem-aventurança; ataraxia.
Anna= alimento; comida.
Atma= antigamente grafado ‘atman’; o ser uno indiviso; sem segundo; ‘alma’.
Cit= pensamento;
Kosha ou kosa= envoltório; estojo; casca, etc.
Mano; mana= mente.
Maya= ilusório; aparente.
Pañca= cinco.
Prakriti= natureza material.
Prana= elemento vital; ar vital; vayu prana ou vento vitalizante (que dá a vida), originário do sol, conforme o Upanisad.
Upanisad= lit. diante de; escritos reflexivos sobre o Atma, sendo 10 mais importantes, comentados por Ari Sankara, conhecidos como Dasa Upanisads.
Vedanta= filosofia teleológica védica; finalidade do Veda ou conhecimento; (não confundir com ‘teológica’)
Vijñana= visão do conhecimento; intelecto.
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