sábado, 7 de maio de 2011

Koshas na visão do Advaita Vedanta


Koshas na visão do Advaita Vedanta
por
Swami Krsnapriyananda Saraswati



Em muitos textos fundamentais do Advaita Vedanta há menção aos Koshas, "estojos" ou "camadas" que revestem o Atma (o Ser). O estudante da Filosofia do Advaita Vedanta deverá conhecer bem sobre eles, e ir aos poucos compreendendo a diferença entre o que é objetivo e o que é subjetivo. Sumariamente falando, o que diz respeito ao objetivo está ligado aos objetos, portanto, possui forma, e o que diz respeito ao subjetivo está ligado ao sujeito, não possuindo forma, etc.

Kosha ou kosa é uma palavra sânscrita que significa “estojo”, “revestimento”,  “vaso”, “container”, “camada”, que em número de cinco cobrem ou envolvem o Atma, ou o Ser, conforme a filosofia do Advaita Vedanta (ou Vedanta "sem-segundo").  Uma representação usual mnemônica é vê-los como camadas numa cebola, ou como naquelas bonequinhas Babushka, que ficam umas dentro das outras.

Os cinco estojos recebem o nome de Pañca-kosas (literalmente, cinco estojos), e a denominação destes cinco estojos segue um ordem que vai do mais grosseiro ao mais sutil destes estojos, conforme a seguinte,

1. Annamaya kosha; anna= alimento; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de alimento.
2. Pranamaya kosha; prana= energia prana; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de prana.
3. Manomaya kosha; mano= mente; maya= aparente; kosha= estojo;  estojo aparente da mente;
4. Vijñanamaya kosha; vijñana= inteligência; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de inteligência.
5. Anandamaya kosha; ananda= bem-aventurança; maya= aparente; kosha= estojo; estojo aparente de bem-aventurança.

O sábio é quem discerne entre o Atma e os Koshas, estes os quais são não-ser.
Babushkas


Compreendendo melhor os cinco estojos
1. Annamayakosha
É o estojo físico ou corpo físico, recebendo este nome devido ao fato de ser nutrido pelo alimento ‘grosseiro’, anna. Vivendo dentro desta camada uma pessoa identifica-se com uma massa de pele, carne, gordura, ossos, e excremento, enquanto que aquele quem realiza a Verdade discerne o Ser ou Atma com verdadeira realidade, o qual é distinto do corpo físico;

2. Pranamayakosha
Significa que este estojo é composto de prana, o princípio vital solar; a força que vitaliza e sustenta junto o corpo e a mente. Ele impregna todo o organismo, e uma das suas manifestações físicas é a respiração. Tanto quanto este princípio vital exista nos organismos, a vida se mantém. Integrado com os cinco órgãos de ação ele forma o estojo vital.  Prana é considerado como sendo uma modificação do ar vital vayu,  o qual entra e sai do corpo físico.

3. Manomayakosha
Manomaya é o que compõem a mente ou manas. A mente, junto com os cinco órgãos dos sentidos constitui o manomayakosha. Este estojo é o que mais se aproxima do que conhecemos como ‘personalidade’ de alguém, mais do que annamayakosha e prenamayakosha. Manomaya é a causa da diversidade, ‘eu’ e ‘meu’.  Sri Adi Sankara compara manomaya a nuvens que são trazidas pelo vento, e que outra vez se afastam pelo mesmo agente. De modo semelhante, o cativeiro e a liberação da pessoa são ambos unicamente causados pela mente.

4. Vijñanamayakosha
Trata-se do estojo do intelecto; a faculdade de discernir, determinação ou vontade. Vijñanamaya é um estojo composto de intelecção associada com os órgãos de percepção. Sri Adi Sankaracarya defende que buddhi (o intelecto), com suas modificações e os órgãos do conhecimento, formam a causa da reencarnação. Este “estojo inteligência”, o qual parece ser seguido pela reflexão do poder de ‘cit’ (pensamento), é uma modificação da Prakriti (natureza material). Ele está provido com as funções do conhecimento e identifica-se a si mesmo com o corpo, os órgãos, etc.

Este estojo de inteligência não pode ser o Ser Supremo devido as seguintes razões:

- está sujeito à mudanças;
- é insensciente (sem sentimento);
- é algo limitado,
- não é constantemente presente.

5. Anandamayakosha
É o mais sutil dos estojos, e significa “estojo composto de bem-aventurança”, ananda. Nos Upanisads, este estojo é também conhecido como “corpo causal”. No sono profundo, quando a mente e os sentidos cessam de funcionar, ele fica em repouso ente o mundo finito e o Ser. Anandamaya, ou aquilo que é composto de bem-aventurança, é o estojo mais íntimo de todos os outros. Este estojo atua em plenitude durante o sono profundo, enquanto que no sono com sonhos ou no estado de vigília, ele tem uma manifestação parcial. 

hari om tat sat


Glossário

Advaita= sem-segundo; não duplo; não-dual; contrário a Dvaita= duplo; dual.
Ananda= bem-aventurança; ataraxia.
Anna= alimento; comida.
Atma= antigamente grafado ‘atman’; o ser uno indiviso; sem segundo; ‘alma’.
Cit= pensamento;
Kosha ou kosa= envoltório; estojo; casca, etc.
Mano; mana= mente.
Maya= ilusório; aparente.
Pañca= cinco.
Prakriti= natureza material.
Prana= elemento vital; ar vital; vayu prana ou vento vitalizante (que dá a vida), originário do sol, conforme o Upanisad.
Upanisad= lit. diante de; escritos reflexivos sobre o Atma, sendo 10 mais importantes, comentados por Ari Sankara, conhecidos como Dasa Upanisads.
Vedanta= filosofia teleológica védica; finalidade do Veda ou conhecimento; (não confundir com ‘teológica’)
Vijñana= visão do conhecimento; intelecto.


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