segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Filosofia Advaita de Sri Adi Sankara


Swami Sivananda

Tradução e notas de
Swami Krsnapriyananda
(todos os direitos reservados na forma da Lei)

Introdução
Swami Sivananda
O primeiro expositor sistemático do Advaita foi Gaudapada, o Parama-Guru (preceptor do preceptor) de Sri Sankara. Govinda fora discípulo de Gaudapada. Ele tornou-se o preceptor de Sankara. Gaudapada deu os ensinamentos centrais do Advaita Vedanta no seu célebre Mandukya Karikas. Mas foi Sankara que levou adiante a bela forma final da filosofia Advaita, dando um perfeito e pensamento definitivo para ele. Seguindo cuidadosamente através dos comentários dos principais Upanisads, Brahma Sutras e o Bhagavad Gita de Sankara, você entenderá claramente a Sua filosofia Advaita. O comentário do Brahma Sutras de Sankara é também conhecido como Sariraka Bhashya.

Os ensinamentos de Sankara podem ser resumidos num meio verso:” “Brahma Satyam Jagan Mithya Jivo Brahmaiva Na Aparah – apenas o Brahman (o Absoluto) é real; este mundo é irreal; e o Jiva (alma individual), não é diferente de Brahman”. Esta é a quintessência de Sua filosofia.

O Advaita ensinado por Sri Sankara é um rigorosa, absoluta unidade. De acordo com Sri Sankara, seja o que for, é Brahman. Brahman, em si mesmo, é absolutamente homogêneo. Todas as diferenças e pluralidades são ilusórias.

Brahman— o Uno sem-segundo

O Atma é alto-evidente (Svatah-siddha). Ele não se estabelece por provas extrínsecas. Não é possível negar o Atma, porque ele é a verdadeira essência pela qual alguém o nega. O Atma está na base de todos os tipos de conhecimento, pressuposições e provas. O Ser é interno; o Ser é externo; o Ser está diante; o Ser está detrás; o Ser é o direito; o Ser é o esquerdo; o Ser está acima, o Ser está abaixo.

Brahman não é um objeto, ele é Adrisya; além de ser alcançado pelos olhos. Portanto, os Upanisads declaram: “neti neti – não isso, não isso, não aquele”. Isso não significa que o Brahman é um conceito negativo, ou uma abstração metafísica, ou ainda uma não-entidade ou um vazio; ele não é outro. Ele é todo pleno, infinito, imutável, auto-existente, autoluminoso, autoconhecimento, e bem-aventurança. Ele é Svarupa, essência. Ele é a essência do conhecedor. Ele é o vidente (Drashta), o transcendente (Turiya), e a testemunha silenciosa (Sakshi). 

Em Sankara, o Brahman Supremo é impessoal, Nirguna (sem Gunas ou atributos); Nikaraka (sem forma); Nirvisesha (sem características especiais); imutável, eterno e Akarta (não-agente). Ele está acima das necessidades e dos desejos. Ele é sempre o sujeito testemunho. Ele nunca pode tornar-se um objeto uma vez que está além de ser alcançada por eles. Brahnam é não-dual; uno sem-segundo. Não há outro junto a ele. Ele está destituído de diferenciação, seja externa ou interna. O Brahman não pode ser descrito, porque uma descrição implicaria em uma distinção. O Brahman não pode ser diferenciado de qualquer outro do que ele. No Brahman, não há distinção da substância e atributos. Sat-chit-ananda constitui-se a verdadeira essência ou Svarupa de Brahman, e não apenas seus atributos.

O Nirguna Brahman de Sankara é impessoal. Ele torna-se um Deus pessoal ou Saguna Brahman apenas através de sua associação com Maya.

Saguna Brahman e Nirguna Brahman não são dois Brahmans diferentes. Nirguna Brahman não é o contraste, a antítese ou oposição de Saguna Brahman. O mesmo Nirguna Brahman aparece como Saguna Brahman para a humilde adoração dos devotos. Ele é a mesma verdade sob dois diferentes pontos de visão. Nirguna Brahman é o Brahman “superior;” o Brahman pelo ponto de vista transcendental (paramarthika); Saguna Brahman é o Brahman “inferior”, o Brahman sob o ponto de vista relativo (Vyavaharika).

O mundo: uma realidade relativa
O mundo não é  uma ilusão, de acordo com Sankara. O mundo é relativamente real (Vyavaharika Satta), enquanto que o Brahman é absolutamente real (Paramarthika Satta). O mundo é o produto de Maya ou Avidya. O Brahman imutável aparece como o mundo mutável através de Maya. Maya é um poder misterioso indescritível do Senhor, o qual oculta o real, e manifesta-se a si mesmo como irreal: Maya não é real, porque ele desaparece quando você alcança o conhecimento do Eterno. Ele não é irreal também, porque ele existe até que o conhecimento surja em você. A superimposição do mundo sobre Brahman é devido a Avidya ou ignorância.

Natureza do Jiva e os meios para Moksha
Para Sankara, o Jiva ou a alma individual é apenas relativamente real. Sua individualidade continua apenas tanto quanto esteja sujeita ao irreal Upadish ou condições limitantes devido ao Avidya. O Jiva identifica-se com o corpo, mente e os sentidos, quando está iludido pelo Avidya ou ignorância. Ele pensa, atua e desfruta devido ao Avidya. Na realidade ele não é diferente do Brahman ou o Absoluto. Os Upanisads declaram enfaticamente: “Tat Tvam Asi – o que és”. Do mesmo modo como uma bolha torna-se uma com o oceano quando ela arrebenta; assim como o espaço num pote torna-se uno com o éter (espaço) universal quando o pote é quebrado, assim, também, o Jiva ou o ser empírico torna-se uno com o Brahman, quando ele alcança o conhecimento do Brahman. Quando o conhecimento surge por meio da aniquilação de Avidya, o Jiva livra-se da sua individualidade e finitude, e realiza sua natureza essencial Satchidananda. Ele mergulho em si mesmo no oceano da bem-aventurança. O rio da vida junta-se ao oceano da existência. Isso é a Verdade.
A liberação do Samsara significa, de acordo com Sankara, o mergulhar absolute da alma individual no Brahman, devido a rejeição da errônea noção de que a alma é distinta do Brahman. De acordo com Sankara, Karma e Bhakti são meios para Jñana, o qual é Moksha.

Vivarta Vada ou a Teoria da Sobreposição
Para Sankara o mundo é apenas relativamente real (Vyavaharika Satta). Ele defende Vivarta-Vada ou a teoria da aparência ou sobreposição (Adhyasa). Do mesmo modo como uma cobra está sobreposta numa corda no crepúsculo, este mundo e corpo são sobreposições do Brahman, o Ser Supremo. Se você obtém o conhecimento da corda, a ilusão da cobre sobreposta nela irá desaparecer. Assim também, se você obtém o conhecimento de Brahman, o imperecível, a ilusão do corpo e do mundo irá desaparecer. No Vivarta-Vada, a causa produz o efeito sem experimentar qualquer mudança em si mesma. A cobra é apenas uma aparência na corda. A corda não transforma-se a si mesma em uma cobra, como o leite em coalhada. O Brahman é imutável e eterno. Portanto, ele não pode mudar a si mesmo dentro do mundo. O Brahman torna-se a causa do mundo através de Maya, o qual é seu impenetrável e misterioso poder ou Sakti. Quando você obtém o conhecimento de que é apenas uma corda, seu temor desaparece. Você não sai correndo dela. Assim, então, quando você realiza o eterno e imutável Brahman, você não é afetado pelos fenômenos, nomes ou formas deste mundo. Quando Avidya ou o véu da ignorância é destruído através do conhecimento do Eterno, então Mithya Jñana ou falso conhecimento é removido pelo conhecimento real do Imperecível ou vívida Realidade; você brilha na sua própria verdade, original esplendor divino e glória.

O Advaita—uma filosofia sem paralelo
A filosofia do Advaita de Sri Sankaracharya é imponente, sublime e única. Ela é um sistema de arrojada filosofia e sutileza lógica. Ela é altamente interessante, inspiradora e elevada. Nenhuma outra filosofia pode sustentar a sua coragem, profundidade e sutil pensamento. A filosofia de Sankara é completa e perfeita.

Sri Sankara foi um magnífico e maravilhoso gênio. Ele foi um mestre em lógica; era um profundo pensador de primeiro nível. Ele foi um sábio de elevada realização; um Avatara do Senhor Siva. Sua filosofia trouxe consolação, paz e iluminação para incontáveis pessoas, do Oriente e do Ocidente. Os pensadores Ocidentais curvam suas cabeças aos pés de lótus de Sri Sankara. Sua filosofia tem acalmado os sofrimentos e aflições das mais miseráveis pessoas, trazendo esperança, alegria, sabedoria, perfeição, liberdade e calma para muitos. Seu sistema de filosofia comanda a admiração do mundo todo.

Hari om tat sat

Fonte
Este texto é parte de Tudo Sobre Hinduísmo - Swami Sivananda

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