quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vedānta e o Jñāna-yoga

Vedānta e o Jñāna-yoga

Swami Krsnapriyananda Saraswati
Gita Ashrama 
2011
Daksina Murti o Sr. Siva fornecendo Jñana
 

Vedānta, literalmente ‘sem-segundo”, tem o significado de “finalidade dos Vedas”, ou teleologia dos Vedas. Por sua vez, Jñāna-yoga, “Yoga do conhecimento”, é um termo equívoco, uma vez que Yoga é também conhecimento, nada separando um conceito de outro. Todo o verdadeiro e fidedigno Yogī visa o Conhecimento perfeito acerca do Absoluto. De certa maneira, todo o Yogī é um Jñānin. A palavra Jñāna significa “conhecimento”, “discernimento”, etc., sendo que Jñāna-yoga é o ramo do Yoga que se dedica ao saber do Absoluto ou Brahman. Por isso, algumas vezes se emprega a expressão Jñāna como sentido de iluminação, que conduz à verdade Suprema. O objetivo ou télos do Jñāna é Viveka, investigação ou discernimento. O Jñāna-yoga, originalmente pertence a chamada escola Yoga de pensamento, porém com uma tendência ao monismo ou Advaita. No Rāja-yoga, e outros ramos do Yoga, no mais das vezes, o Yogī baseia-se numa Metafísica dualista ou Dvaita. O Jñānin, isto é, aquele quem segue o caminho da Jñāna-yoga, vê no poder-da-vontade (iccha) e na razão inspirada (buddhi) os dois princípios condutores pelos quais ele pode alcançar a iluminação libertadora. O processo de Jñāna-yoga contém sete partes ou componentes, de acordo com a filosofia de Śaṅkarācārya:

1 - Viveka, que corresponde ao chamado “discernimento metafísico", ou a correta distinção entre o fenomênico ou objetivo e “a-coisa-em-si”, o eterno, o subjetivo,  imutável e infinito Brahman, em comparação com a mutável e finita corporificação do Jīva. Compara-se metafisicamente o ‘eu’ humano com o ‘Eu’ suprapessoal; 

2 - Vayragya, trata-se da renúncia ao gozo dos sentidos grosseiros, através do desapego dos objetos materiais terrenos bem como celestes (glória, fama, liberação); 

3 - Tapas, processo que permite e compreensão suprema, na medida em que realiza o que é austeridade no seu sentido amplo. Tapas é composto de no mínimo seis aspectos importantes, chamados de sat-sāṇpatti, ou “seis tesouros”: a) śama, tranquilidade; b) dāma, autocontrole; c) supārati, controle da mente; d) titikśa, tolerância; e) samadhāna, contemplação; f) śrāddha, fé. 

4 - Mumukśutvam, “desejo de liberação”. No entanto, não deve ser traduzido literalmente, pois o devoto procura realizar o Absoluto para a Sua satisfação, portanto, o jñānī autêntico está acima do desejo da liberação, mas uma inclinação, uma tendência, porque possui vayragya; 

5 - Śrāvana, dedicação ou “audição atenta” ao saber sagrado das escrituras bem como ao mestre espiritual ou guru

6 - Maṇāna, devida reflexão daquilo que foi ouvido do mestre espiritual e, 

7 – Nididhyāsana, processo que consiste em meditar sobre aquilo que foi proferido pelo mestre ou então está nas escrituras, culminando como chamado ênstase ou Samādhi.

O chamados sete passos ou partes do Jñāna-yoga aparecem no Vedāṇta Siddhanta Darśana, 190-2, da seguinte maneira: “Os grandes contempladores (Jñānīs) têm falado dos sete estágios do conhecimento. Dentre eles, o primeiro estágio do conhecimento é designado como “benevolência” (Subha-iccha); o segundo é a reflexão (vivarāna); o terceiro é a sutileza da mente (tanu-manāsa); o quarto é a consecução da lucidez (sattva-āpatti); o quinto é o desapego (āsaṇsakti); o sexto é o desaparecimento de todos os objetos (pada-arthapabvhāvani); o sétimo é a entrada na Realidade última”. O objetivo do Jñāna-yoga é o conhecimento perfeito a cerca do Absoluto. No Bhagavad-gītā 4, 19, lê-se: “Compreende-se que uma pessoa está em pleno conhecimento quando todos os seus atos estão desprovidos de desejo por gratificação dos sentidos. Esta pessoa é considerada pelos sábios como um trabalhador (karma) cuja ação fruitiva é queimada pelo fogo do conhecimento perfeito”. Na realidade última, todo o processo de Yoga, uma vez compreendido as suas premissas e propriedades básicas, é o da realização, ou a conclusão, cujo objetivo é atingir o Samādhi, ou união com o Absoluto, então, toda a dualidade do Yoga desaparece.

om tar sat

Nenhum comentário:

Postar um comentário