Entendendo a unidade do Ser
Swami Krsnapriyananda Saraswati
Gita Ashrama
2011
Brahma, Vishnu e Siva |
Vedanta é a filosofia original dos Vedas. Ele surge sem divisões, as quais ocorreram apenas posteriormente e, de certo modo, muito recentemente. Por isso se diz que somente há um único Vedanta, o qual defende o ser como Absoluto. Advaita Vedanta literalmente quer dizer “não-segundo”, é um princípio teleológico (finalidade de) dos Vedas (verdade Suprema). Na visão da Filosofia do Vedanta, somente há um único e mesmo Ser em tudo e em todos. O Ser é chamado Sat, também Atma (antigamente dizia-se ‘atman’), Paramatma ou Brahman. Todos estes são epítetos para o Ser na Ontologia védica. Portanto, há somente um único e mesmo Ser, com muitos nomes e muitas formas. Não há “dois seres”. Quem faz alguma diferenciação dizendo que somente uma determinada forma é “deus”e que as outras não são, demonstra ser politeísta, ou que crê na possibilidade de muitos ‘deuses’, uns com mais ‘poderes’ do que os outros. Porém os tais ‘poderes’ sempre serão de natureza material, como força, beleza, riqueza, etc.
Há confusão entre ‘não-dualismo ou sem-segundo’ e dualismo, ‘com-segundo’, portanto é necessário conhecer as influências da ideologia religiosa para aprofundarmos isso. Vejamos:
Monolatria e henoteísmo
Monolatria é a adoração centrada num único ponto. Ocorre geralmente no Politeísmo (muitos deuses), onde se dá a adoração de uma só divindade, embora não implique sempre em Henoteísmo (há um deus supremo e deuses menores). Por exemplo, pode-se observar que no início da história do povo Hebreu, a partir da análise da própria narrativa bíblica, era comum a prática da Monolatria, em que determinados personagens, embora admitindo a existência de outros deuses, eram devotos de Javé, seja por temor ou fidelidade, seja por outro motivo qualquer. Essa prática era ao mesmo tempo henoteísta, pois eles criam na supremacia do deus hebreu, ao mesmo tempo em que aceitavam a existência de outros deuses. Depois dessa fase inicial dos hebreus (politeístas, monólatras e henoteístas), o culto hebraico evoluiu para a prática monoteísta, em que os demais deuses são considerados falsos ou inexistentes. Atente-se para o fato de que a Monolatria está pautada no conceito de adoração, de maneira que no Monoteísmo como no Politeísmo ela pode existir, bastando que o culto se verifique em relação a somente uma entidade divina. Em um segundo momento, o Henoteísmo está fundado no conceito de supremacia e hegemonia de um deus em relação aos demais, de modo que entre gregos e romanos, Zeus (ou Júpiter) era considerado superior aos demais deuses.
Entre os gregos, havia também a devoção a um só deus, entre tantos outros, o que não implicava a ideia de que o deus escolhido fosse superior aos demais ou a Zeus/Júpiter; a devoção geralmente se dava pela proximidade familiar que se acreditava ter em relação àquele deus. Muitas vezes também o foco da adoração se desloca para uma figura humana, um Governante, Rei, Imperador, ao qual se atribui qualidades divinas, o que pode caracterizar Monolatria. Algumas religiões, como é o caso da Wicca, utilizam o conceito de monismo para explicar a crença de que tudo o que há foi criado por uma única divindade, neste caso, a figura de uma Deusa Mãe como entidade cósmica primordial. Essa crença se baseia no fato de que, na natureza, os únicos seres capazes de gerar vida, de criar, são as fêmeas.
Cristianismo
Vários cristãos acreditam numa grande variedade de anjos, santos, demônios. etc;. porém eles sempre são inferiores à Santíssima Trindade. Embora muitos fiéis neguem que tais seres sejam deuses, muitas vezes existem em orações ou crenças.
Hinduísmo
Atualmente o Hinduísmo é descrito como uma religião monista. Porém, antigamente tais fiéis acreditavam, além de um deus supremo, em certas forças da natureza que controlavam diferentes elementos. Há, entretanto, grupos religiosos independentes, que creem em deuses e semideuses, e foram muito populares no Ocidente nos anos 70.
Mitologia greco-romana
A mitologia greco-romana é um dos mais famosos exemplos de politeísmo, por crer em vários deuses, para diversos elementos ou sentimentos. Mas segundo os mitos, existia o deus Zeus (ou Júpiter), que era supremo a todos, chamado de "O Deus dos Deuses".
Antiga religião egípcia
Horus |
Na antiga religião egípcia, sempre existiram vários deuses (ou Neteru), sendo Rá, o primeiro deus, considerado o líder e Amon, chamado de "O Rei dos Deuses" os mais poderosos. Mas, a crença diz que os dois seres formando o supremo Amon-Rá. Podendo dizer que o último seria superior a todas as outras divindades.
Monismo e Filosofia
Chama-se de monismo (do grego monis, "um") às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica) ou a identidade entre mente e corpo na filosofia da mente, por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, que afirmam realidades separadas. As raízes do monismo na filosofia ocidental estão nos filósofos pré-socráticos, como Zenão de Eléia, Parmênides de Eléia, principalmente. Spinoza é um filósofo monista por excelência, pois defende que se deve considerar a existência de uma única coisa, a substância, da qual tudo o mais são modos. Hegel defende um monismo semelhante, dentro de um contexto de absolutismo racionalista e panteísta.
Advaita Vedanta
O Advaita é monista e monoteísta, aceitando somente um único e mesmo Deus com muitos nomes e muitas formas; a visão dualista, no mais das vezes, aceita muitos deuses, e que somente uma forma é verdadeira, sendo, portanto politeístas, e ao mesmo tempo colocando-se contra o panteísmo. Mas a pergunta que o Advaita-Vedanta faz aos dualistas é, se tudo é Deus, como separar uma coisa de outra?
Pancayatana Puja
O que se percebe nos Vedas é o fato de aparecerem constantemente cinco formas prevalecentes do Supremo: Siva, Vishnu, Sakti ou Devi, Ganapati (Ganesha) e Surya Deva. Em algumas origens, o conceito de Pancayatana é substituído pela noção de Shanmata, a qual acrescenta Skanda para as cinco Deidades citadas acima. A adoração é feita tanto na base diária como em ocasiões de festivais especiais. Questões do tipo de “Quem é superior?”, se Vishnu ou Siva, etc., o qual é muito comum entre muitos grupos de Hindus, não é feita pelos Advaitins, ou seguidores do Advaita Vedanta de Sri Sankara. Nas palavras de Sri Chandasekhara Bharati (1892-1954), o Jinvanmukta pleno, “Você não pode ver os pés do Senhor, por que você gasta o seu tempo debatendo sobre a natureza da Sua face?”.
Ganapati |
Diz-se que Vishnu e Siva, os grandes Deuses no Hinduísmo, possuem a mesma importância na tradição Advaita. O Sannyasi da ordem Advaita, sempre sinaliza com a correspondência nas seguintes palavras: “Iti Narayanasmaranam”. Na adoração, os Advaitins não insistem em adorar exclusivamente um Devata apenas. Como Brahman é essencialmente sem atributos (Nirguna), todos os atributos ou Gunas, pertencem igualmente a Ele, dentro da realidade empírica. A forma particular que um devoto prefere de adorar a Deus é chamada de Ishta-devata. A adoração do Ishtadevata feita pelos Advaitins incluem Vishnu como Krishna, o Jagadguru, e como Rama, bem como Siva como Dakshinamurti, o Guru que ensina pelo silêncio, e como Candramaulisvara, e a Deus Mãe como Parvati, Lakshmi, e Sarasvat. Especialmente populares são as representações de Vishnu como um Salagrama (pedra sagrada), Siva como um Linga, a Sakti como o Sri Yantra. Ganapati ou Ganesha é sempre adorado no começo de qualquer atividade humana, incluindo o Puja para outros Deuses. O ritual diário Sandhy Avandana é direcionado a Surya. Os Sannyasis da Advaita Sampradaya recitam tanto Vishnu Sahasranamam e a porção Satarudriya do Yajurveda, como parte da sua adoração diária. Além disso, formas híbridas de Deidades, como Hari-hara ou Sankara-Narayana, bem como Ardhanarisvara são também adoradas.
Há outras significantes distinções entre a adoração na tradição Advaita e os outros tipos de adoração Hindu. O Advaita insiste que a distinção entre o adorador e Deus, o objeto de adoração é, no final das contas, transcendido, e que o ato de adorar por si só leva para esta identidade. Isto não deverá ser confundido com a doutrina dualista da escola Siva Siddhanta, a qual chama por um ritual de identificação entre o adorador com Siva, durante a adoração. A identidade do Atma com Brahman é uma matéria de verdade absoluta, não é apenas um ritual de identificação temporária, que se desfaz depois que o adorador “desliga-se” da sua adoração. A grande maioria das escolas Vaishnavas do Vedanta sustentam que a distinção entre o adorador e Deus, o objeto da adoração, é mantida eternamente.
Hari om tat sat
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