sexta-feira, 20 de maio de 2011

Filosofia e religião II


Filosofia e religião II

Swami Krsnapriyananda Saraswati
Gita Asrama
2008-2011
Sri Krsna instrui Arjuna sobre o Dharma
Esta afirmação num Śāstra Védico (escritura que fornece citações de outras escrituras), considerada uma obra máxima de “religiosidade” da Índia, pode soar estranha ao neófico, porém é facilmente compreendida pelo filósofo. Ela é uma afirmação libertadora, embasada no conhecimento (Jñana), e não na fé cega sem conhecimento, Avidya. Simplesmente realizar algo sem perguntar por suas causas é uma forma de ignorância. No capítulo 12.12, também do Bhagavad-gītā, está afirmado: 

O conhecimento é superior à mera prática; a meditação no conhecimento é superior a ele, e a renúncia ou Tyaga é superior a todos, porque a paz sucede-se imediatamente para quem renuncia ... aos frutos das ações”. 

Filosofia não é religião, apesar de os seus conteúdos transcendentais apontarem aspectos religiosos, ela está além de barreiras imaginárias e políticas pessoais e ideológicas de um grupo ou de alguém. Tampouco “religião” é Filosofia, apesar de aquela conter aspectos filosóficos, e Filosofia não conter religião, ainda que possa conter religiosidade. O que hoje conhecemos como “religião” está assentada por sobre uma instituição, e é quase uma visão política partidária pessoal ou de um grupo mais ou menos homogêneo; está inteiramente repleta de ideologias e juízos de valores pessoais da opinião ou 'doxata'  como dizem os gregos. Mas Filosofia está muito além de uma instituição; ela epilastra-se no indivíduo pensante, na sua “visão espiritual e racional do mundo”, e na forma de ele lidar com o transcendente e também com o imanente. O Espiritual, necessariamente, não tem a ver com religião, ainda que as religiões pretendam estabelecer um elo entre o mundano e o divino; o profano e o sagrado. Mas Filosofia não depende de uma legitimação pela fé ou mesmo de política, ou então pertencer a uma determinada região geográfica ou por pertencer a um determinado povo, grupo de sectários, ou alguém que defende um ponto de vista ideológico preso a um tempo, lugar e circunstância. Também, a Filosofia não depende de religião apesar de a religião depender dela. Há um entrelaçamento entre ambas. Filosofia é um fenômeno racional do Homem, originado na sua busca “pelas causas primeiras”, como diz Aristóteles, e conforme sua natureza racional de pensar. Filosofia se manifesta de modo diferente segundo tempo, lugar e circunstâncias. Apesar de tudo, continua sendo Filosofia, porque é humana! 

Religião é, também, um ato humano, e se firma na fé, no ato de crer. Apesar de a Filosofia estar fundamentada na episteme ou conhecimento racional, e a segunda estar tão somente na fé, portanto no crer, há um largo e quase intransponível vale fértil entre elas. Eis que se pergunta: como, então, conciliarmos fé e razão, sem abrirmos mãos de uma, para defendermos outra? Paradoxos antigos, talvez insolúveis; mas eles são aspectos filosóficos importantes. Uma distinção dualista dura entre ciência filosófica e religião é fruto do longo lastro do pensamento fixo, bem distante do dinamismo do Ser. Crer, também, que somente uma visão religiosa é única e verdadeira, é claramente uma ideologia calcada na ignorância. O Vedanta é a ponte livre do pensar pelas causas da unidade do Ser, é por isso que é também chamado de Ontologia, porque vai além do simples crer. como bem o diz Swami Vivekananda, “Sem o Vedanta cada religião se torna superstição; com o Vedanta, tudo se torna religião” 

hari om tat sat

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